José Olímpio
_ A sessão está aberta! Está sendo julgado o réu Olívio de
Oliveira Grenwald pela acusação da morte do irmão, o Sr. Dionísio de Oliveira
Grenwald. Com a palavra, o advogado de acusação:
_ Meritíssimo, a promotoria pede
a condenação e a pena de 30 anos de detenção para o réu, pela acusação de assassinato
premeditado da vítima no dia 14 de maio de 2011, por volta das três horas da
manhã, próximo à residência do Sr. Alfredo Dantas Nobre, e depois ter deixado o
corpo da vítima na porta do Sr. Alfredo, com a intenção clara de incriminá-lo
pelo assassinato. É do conhecimento de todos que o Sr. Alfredo passou por maus
momentos desde que o corpo da vítima foi encontrado em sua porta, por ser o único
suspeito do crime; só depois que as investigações levaram até o réu, que hoje
aqui se encontra, é que o Sr. Alfredo pôde descansar tranquilizado, merecendo
até, por parte do Estado, retratação pública e indenização por danos morais.
_ Obrigado, Sr. Promotor, este
júri irá considerar sua indicação. Com a palavra, o advogado de defesa:
_ Meritíssimo, a defesa pede a
absolvição do réu por falta de provas concretas contra ele, uma vez que a
polícia tem como prova apenas uma gravação telefônica de uma conversa do réu
com a vítima, onde os dois discutem, como qualquer irmão discutiria, e combinam
um jantar no dia 14 de maio de 2011 para conversar sobre o assunto da herança
deixada pelo seu pai. A defesa entende que isso não é prova suficiente para se
acusar o réu de assassinato.
_ Obrigado à defesa. Agora o
promotor pode interrogar o réu.
_ Após o jantar que, segundo os
laudos, terminou por volta de uma hora da madrugada, o que o Sr. Fez?
_ Fui para minha casa.
_ Antes disso o Sr. Não teve uma
última discussão com seu irmão?
_ Não, nós combinamos que
deixaríamos a questão da divisão da herança por conta dos nossos advogados, uma
vez que o nosso pai não deixara testamento escrito.
_ Tem certeza que não houve
nenhuma discussão no restaurante?
_ Protesto Meritíssimo, o promotor
está tentando coagir o réu a uma declaração!
_ Protesto negado! O réu deve
responder à pergunta.
_ Tenho certeza.
_ Obrigado, sem mais perguntas.
_ Agora a defesa.
_ Sr. Olívio, segundo a gravação
telefônica o motivo da sua discussão com seu irmão foi o fato de ele se achar
com mais direito sobre a herança por ser mais velho, estou certo?
_ Está, sim senhor.
_ E o que conversaram durante o
jantar?
_ Nós não conseguimos chegar em
um acordo sobre a divisão da herança, por isso decidimos contratar advogados e
deixar o caso em suas mãos.
_ E tudo isso foi conversado
amigavelmente, ou como uma discussão?
_ Não houve discussão, ninguém
alterou a voz durante o jantar.
_ Obrigado, isso é tudo.
_ O Promotor pode chamar a
primeira testemunha.
_ Que entre o Sr. Tadeu Carlos
Albuquerque, garçon do restaurante onde o réu e seu irmão jantaram no dia 14 de
maio.
_ Levante a mão direita. O Sr.
jura dizer a verdade, nada mais que a verdade, em nome de Deus?
_ Juro, Meritíssimo!
_ Sr. Tadeu, foi o Sr. quem
serviu a mesa do réu e seu irmão?
_ Sim, senhor?
_ O Sr. pode descrever as feições
dos dois irmãos quando foi atendê-los?
_ Sim senhor, eles estavam com
semblantes graves, como se não estivessem à vontade na presença um do outro.
_ Protesto Meritíssimo! A testemunha
está fazendo conjecturas!
_ Protesto aceito! A testemunha
deve se limitar a responder o que lhe é perguntado, sem tecer comentários
pessoais.
_ Muito bem! O senhor percebeu se
o jantar transcorreu tranquilamente, ou se houve alguma alteração emocional por
parte de algum dos irmãos?
_ De início os dois não se
falaram muito, mas depois começaram a discutir, primeiro em voz baixa, e depois
praticamente aos berros.
_ O senhor ou o gerente do
estabelecimento tomaram alguma atitude?
_ Sim. Fui até à mesa e pedi que
se contivessem, pois estavam assustando os outros clientes?
_ E o que eles fizeram?
_ Pediram desculpas e ficaram calados por um tempo.
_ E depois?
_ Começaram a conversar
novamente.
_ O senhor chegou a ouvir o teor
da conversa?
_ Protesto Meritíssimo! A
testemunha não poderia provar nada do que disser neste tribunal sobre a
conversa dos dois irmãos!
_ Sr. Tadeu, o senhor pode provar
o que disser para responder essa pergunta?
_ Sim, Meritíssimo! Tem o meu
colega de trabalho como testemunha, ele estava junto comigo quando ouvimos a
conversa.
_ Protesto Meritíssimo! A segunda
testemunha poderia ser forjada!
_ Protesto negado! Sr. Tadeu,
responda à pergunta.
_ O Sr. Dionísio disse ao irmão
que, se o pai tivesse deixado um testamento, com certeza não teria deixado nada
para o irmão, pois sabia que ele era um irresponsável e que rapidamente daria
fim em todo o patrimônio herdado.
_ E o que o senhor Olívio respondeu?
_ Disse que tinha direito à
herança tanto quanto seu irmão, e teria a sua parte, nem que precisasse
matá-lo.
_ E depois?
_ O senhor Dionísio levantou-se e
disse ao irmão que seu advogado o procuraria; então jogou sobre a mesa uma nota
de 50 reais e saiu do restaurante.
_ E o que fez o réu?
_ Chamou-me e pagou a conta
apressado, então saiu.
_ O senhor viu alguma coisa fora
do restaurante?
_ Não senhor, não saí do
restaurante.
_ Obrigado, é tudo.
_ A testemunha é da defesa.
_ Sem perguntas, Meritíssimo.
_ Então a acusação pode chamar a
segunda testemunha!
_ Pode entrar o Sr. Augusto Dias
da Silva, garçon do mesmo restaurante onde o réu e a vítima jantaram!
[...]
_ O senhor reconhece o réu, aqui
presente?
_ Sim, ele estava no restaurante,
com seu irmão, no dia 14 de maio.
_ O senhor presenciou o teor da
conversa do réu com o seu irmão, no restaurante?
_ Presenciei uma parte da
conversa, junto com o meu colega de trabalho, o Tadeu.
_ O senhor se lembra do que
disseram?
_ O irmão mais velho, Sr.
Dionísio, disse que o irmão era um irresponsável e que o pai não deixaria
nenhuma herança para ele.
_ As palavras foram exatamente
essas?
_ Não exatamente, não me lembro
das palavras exatas, apenas do teor da conversa. Em outras palavras, foi isso o
que ele disse.
_ E o que o irmão respondeu?
_ Ele disse que também tinha
direito à herança, e que mataria o irmão, se fosse preciso.
_ Após saírem do restaurante, o
senhor viu o que fizeram?
_ Não senhor.
_ Obrigado, é tudo.
_ A defesa pode interrogar a
testemunha.
_ Senhor Augusto, o senhor
recebeu alguma soma em dinheiro para ser testemunha neste júri?
_ Protesto Meritíssimo! A
acusação está levantando hipóteses infundadas!
_ Protesto negado! A testemunha
pode responder à pergunta?
_ Não senhor, não recebi nada.
_ Sem mais perguntas,
Meritíssimo.
_ A sessão está suspensa até às
nove horas de quinta-feira. Sugiro que a defesa e a acusação procurem reunir
provas mais contundentes para darmos prosseguimento ao caso.